segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

TEXTO DE ANO NOVO 2015/2016 - REVISITADO POR MIM...

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.”
(Autor desconhecido)

Vêm chegando o Natal e o fim de Ano! Para alguns tempo de beber e comer, para outros, tempo de orar/rezar e agradecer a Jesus e para tantos, tempo de sonhar com o Papai Noel e seus presentes!

Para mim, apenas: Tempo de refletir... E para aqueles que gostam de escrever, nada melhor e mais fÁcil para pensar do que revisitar um texto! Escolhi um que escrevi em Dezembro de 2015, publicado em meu blog pessoal, mas não na ABCEM. Naquela ocasião, disse para mim mesmA que 2016 seria o primeiro ano da Minha mudança...

“2016, meu ano de mudança! Não aquela mudança por fora da roupa nova ou da super maquiagem de ano novo! Mudança interna! Resgate de valores!"

Passamos o ano novo no interior de MG! Um dos anos novos com menos gente, com a ceia menos farta, com poucas expectativas! Afinal, o dia seguinte seria apenas o dia seguinte, ainda esclerosada e  em surto! Em outros anos da minha vida, certamente, julgaria como um réveillon triste. Mas, não foi isso!

Foi o ano mais farto de pensamentos positivos! Um ano sem maquiagem, sem roupa nova! Um ano com roupa colorida! Aliás, nunca vi tanta gente substituindo os clássicos branco (paz) e vermelho (amor) pelo dourado e amarelo “ostentação”, seguindo a ideia de espantar a crise econômica do país. Espero do fundo do meu coração (iludido) que todas essas pessoas queiram mais luz, mais energia, mais sol e renovação, não apenas dinheiro!

Um ano sem sapatos novos! Aliás, sem sapato algum. De pés no chão, na grama do quintal, acalmando os cães devido aos fogos de artifício! Um ano com Natal e Ano Novo com meu marido desembarcado e ainda viajando juntos (o que é raro!). Percebendo que quanto menos tento exigir da vida e programá-la milimetricamente, mais coisas recebo dela. Mais nuances sou capaz de perceber, mais paciência aprendo a ter. E, dando mais espaço ao acaso, melhor passo a me conhecer.

Um ano em que ouvi meu pequeno Lucas dizer: "Quero ver fogos. Não tenho medo, mamãe!" Ele já não é mais tão pequeno assim. Está crescendo e eu, dia a dia, com todas as dificuldades da esclerose, vou cumprindo minha missão. Não sou nem de longe a melhor mãe do mundo. Mas tento ser sempre a melhor que posso, mesmo abarrotada de defeitos.

Um ano da ceia (venerada pelos gatos) feita inteirinha pelo “mestre-cuca”, Rodrigo! Em que passamos a tarde já degustando cervejas e deliciosos bolinhos de bacalhau. Porque afinal, estar junto já é bom e divertido. Não precisamos esperar o momento oficial da ceia para celebrarmos em família. Sempre é hora de celebrar, mesmo sem todas as pompas e circunstâncias! Estas que, às vezes, nos desviam do verdadeiro foco do natal, do ano novo, da VIDA!

Um ano em que dormimos cedo, logo após estourar a champanhe da meia-noite. Champanhe que eu bebi no copo de requeijão e no gargalo da garrafa! Estou vivendo a vida cada vez mais preocupada com as essências do que com as aparências! Foi um Réveillon com uma bela e longa noite de sono. Não por tristeza, mas por entender que meu corpo está nesse ano precisando de verdadeiro descanso. Está precisando recarregar baterias e energias, e quanto antes isso ocorrer, antes, poderei voltar o melhor possível ao batente, às lutas diárias da minha vida esclerosada.

Além disso, aprendi a apreciar a manhã seguinte! De que vale apenas uma noitada isolada? Sei que MG não tem praia, mas, ainda precisávamos dar o primeiro mergulho do ano, favorecendo minha nova empreitada anti-esclerose, qual seja, dar um upgrade na minha vitamina D! E o sol...Ah o sol! Ele é ótimo para isso!

Fonte: acervo pessoal


Em 2016...eu quero caminhar...
com simplicidade...
buscando a serenidade...
por entre as dificuldades...
sobre as diferenças...
Caminhar SEMPRE
em FAMÍLIA!”


Em 2017, eu ainda quero a mesma coisa! Repetindo o que foi bom, e seguindo em frente, segundo após segundo, com a minha companheira EM. Modificando gradualmente o que não foi satisfatório, pois afinal, como afirmou  John F. Kennedy: "A mudança é a lei da vida. Quem só olha para o passado ou para o presente, perderá o futuro". E, sobretudo, tendo a sabedoria para identificar esses dois tipos de situação.

Venha 2017... com “Mais amor, por favor”!

TEXTO DE 2015, REVISITADO E PUBLICADO NO BLOG DA ABCEM

"A irracionalidade de uma coisa não é argumento contra a sua existência, mas sim uma condição para ela."

(Nietzche)

Essa frase, que achei por acaso ao procurar outra, reflete exatamente o que estou vivendo neste momento.

Há 9 anos convivo com a esclerose múltipla e em meados de 2015  ela resolveu acordar com força total. Estava naquele momento com três lesões novas no meu cérebro e com outras duas placas antigas em atividade. A questão é que sempre levei tudo na brincadeira, não por ser forte como muitos pensam, mas, por ser fraca demais e incapaz de encarar a doença. Foi por isso que sempre a NEGUEI!

Fato é que sem sentir muito bem as pernas e estando extremamente tonta, percebi que a esclerose resolvera acordar e que a luta havia começado! Podia ser que a cortisona resolvesse o surto e eu ficasse bem de novo, mas, até quando? E podia ser que também não resolvesse! O ponto é que eu precisava, mais do que ninguém, entender e aceitar o caráter finito de toda e qualquer vida. JAMAIS compreendi e acho que por isso fico sempre desesperada de pensar em como todos os que gostam de mim viverão sem a minha presença e ou, lidarão com uma possível futura invalidez. Na verdade, já me sinto um pouco inválida por não conseguir fazer tudo o que fazia. Por não conseguir não ficar tonta! Por sentir um cansaço atroz e uma preguiça que advém da fadiga e da depressão!

Não serei hipócrita de dizer que fiz tudo o que queria na vida. Na verdade, sempre falta algo e essa é a  graça da existência que conscientemente enxergo, mas que não consigo aceitar intrinsecamente.

Queria ter outro filho, ter mais dinheiro para sustentá-lo e queria viajar mais por aí (vencendo o medo de avião). De resto, eu não QUERO mais NADA! Mas, infelizmente, todas essas coisas naquele momento já não eram possíveis ou, ao menos, não prudentes.

Então, lidando com o que era plausível: o que queria era que a cortisona fizesse efeito, mas, se por acaso não fizesse, eu gostaria apenas que todos se lembrassem da Liane que conheceram até 2013. Quando comecei a me sentir muito tonta e aos poucos fui piorando Não queria a pena de ninguém, sobretudo se eu não morresse, mas, entortasse! Pessoas "tortas ou abobadas" ainda são pessoas e merecem dignidade. ISSO PARECE ÓBVIO, eu sei! Mas na prática não é fácil! Eu, hoje, esclerosada há 9 anos, estou aprendendo ainda a lidar com meus colegas esclerosados e cadeirantes do Hospital do Fundão e eu digo NÃO É FÁCIL! QUE VERGONHA DE MIM, POR ISSO!

Pode ser que demore pra isso acontecer ou que NUNCA aconteça. Mas a morte é certa pra todos e peço a vocês que reajam da mesma forma. Que reajam naturalmente, pois a morte deve ser natural. Ela é a única certeza da vida!

Não quero interjeições do tipo: "Ela era TÃO jovem!" "ela lutou tanto e não adiantou!" "Que tristeza!" "Coitado do filho dela!" E tampouco quero meus amigos e minha família tristes. Pelo contrário, quero uma bela  festa com um bom samba e quero que cuidem/acompanhem o Lucas sempre com felicidade porque  ele é muito alegre e merece seguir assim!

Naquela época comecei a escrever porque a  doença me faz refletir. Na verdade,  a doença me dá  algo que muitos de  nós não valorizamos: a esclerose e a possibilidade de ficar ruim a  qualquer momento me dá a chance e a garra pra aproveitar cada segundo, mesmo que passando mal (tonta, com dor, sem sentir os braços e pernas) como se fosse o único,  o último bom e são! Eu não gostava de fotos. Agora, as amo! Elas  ficam pra posteridade. Elas captam a  essência dos momentos! A esclerose, sobretudo, me dá múltiplas possibilidades de agradecer, de me despedir e de dizer te amo a todos que desejo e, da mesma forma, de receber isso das pessoas que gostam de mim! Minha avó morreu há 3 anos e fico triste de não ter ido vê-la. Ali comecei a entender verdadeiramente o que está culminando nesse texto! Que tudo passa, a gente também passa! A questão não tem que ser a morte e sim a força e a vontade com que se vive!

Em 2015, parei e chorei 5 horas sozinha dentro do quarto e parece que consegui progredir mais do que em anos de EM e terapia. Acho que finalmente entendi que  existem coisas que não são controláveis e que morrer ou entortar não é derrota alguma e, sim, fatalidade! SE E QUANDO ISSO OCORRER, A CULPA NÃO VAI SER MINHA! Eu não vou ter perdido a guerra, mas sim, ganhado anos de batalhas.

Uma vez... o chefe do meu chefe (grande homem) me disse: "você pode até morrer da doença, mas não pode deixar ela te vencer!" E é por isso, que tonta ou não, triste ou não, sozinha ou não, vou viver até o FIM! É assim que quero que as pessoas me vejam! Sem pena! E que saibam que eu não guardo rancor e ressentimento de NINGUÉM! Assim eu me despeço e vou curtir a noite, porque a vida segue e o tempo não pára!